Uma pessoa anda a passar por um período “desafiante”. Vem no autocarro a ouvir um podcast para ver se se distrai e se a viagem fica menos penosa. Começa a ouvir um episódio sobre livros, outros sobre filmes e… nada... Até que aparece um que pergunta: Conhece as músicas de desenhos animados clássicos? Como se costuma dizer… fala-me a cantar!!!
Começa a ouvir e, embora sejam demasiado rápidos a adivinhar, não faz mal, começa a sorrir! Melhor! Começa a responder aos locutores! Como se estivesse também ela no estúdio a participar no jogo! “Verdes? Cabelos verdes?” E aquela música inconfundível!? E os primeiros acordes daquele outro? A senhora que vai à sua frente, e que viveu a infância num tempo em que não havia desenhos animados, olha para a pessoa e deve pensar “olha-me esta a falar sozinha!”. Mas isso não importa nada! O que importa é que o dia ficou melhor! Muito melhor!
Nem todos entenderão… mas muitos vão entender! E quase que aposto que também não vão resistir a responder. Estejam no autocarro, no trabalho, no meio da rua ou em casa a fazer o jantar!
No filme “The Holiday” há uma cena muito simples mas com imenso significado. Para mim, pelo menos. Fala dos ventos de Santa Ana. Para quem não viu o filme, trata de duas mulheres que decidiram dar uma volta nas suas vidas, numa espécie de fuga prá frente, e por isso, num impulso, inscrevem-se num site de troca de casas. Uma em Inglaterra, outra nos Estados Unidos. Na Califórnia mais precisamente.
Voltando à cena: uma delas está em frente da sua “nova” casa com um dos personagens e sopram ventos fortes. E ele diz-lhe: “The wind...It's what makes it so warm at this time of the year. Legend has it, when Santa Anas blow, all bets are off, anything can happen.”
Nas duas últimas semanas estes ventos devem ter andado a soprar por estes lados. Em imensas pequenas coisas senti que era altura de mudanças. E quando são vários os sinais… uma pessoa deve fazer por segui-los, não é?
Tudo começou com uma saudade de tempos bons. Tempos em que recebíamos amigos em casa para jantares animados, com partilha de alimentos e experiências. Depois foi a oportunidade de me desfazer de dois telemóveis antigos, daqueles que estão ali na gaveta porque não sabemos o que lhes fazer. Com a mudança de telefone… veio também toda uma nova oportunidade: novas conversas. Sem histórico. A minha resistência à mudança manifesta-se neste tipo de coisas… mudar de telemóvel implica ganhar umas coisas e perder outras. Desta vez decidi que ia ver esta “chatice” como uma oportunidade para o novo. Novas conversas, filtrar o que importa e alimentar o que nos faz bem.
Também senti o ímpeto de fazer algumas alterações em casa. Deixar de adiar esta ou aquela tarefa. Dar prioridade aquilo que embora considere prioritário, é muitas vezes adiado. E senti vontade de sair para caminhar, até nos dias em que não precisava de o fazer para me deslocar do ponto A ao ponto B. E com estas “vontades” consegui superar-me mais uma vez. E essa sensação é sempre boa!
As mudanças trazem normalmente algumas dores… nem que sejam musculares! Implicam desfazer nós, desfazermo-nos de coisas/situações com as quais já estamos confortáveis, mesmo que saibamos que já não fazem parte do que somos ou do que queremos ser. Mas é mais fácil, ou parece muito mais fácil, manter do que mudar.
Mas ao mesmo tempo, as mudanças também trazem leveza, ar fresco, oportunidades de melhoria e renovação. De fazer um upgrade à nossa própria versão. Mesmo que sejam ligeiras atualizações… são sempre atualizações!
E por isso não se esqueçam, se sentirem um ventinho passar, aquela brisa quentinha na cara, pensem nos Ventos de Santa Ana e deixem-se voar. Está tudo em jogo, e tudo pode acontecer!
P.S.: No Domingo à noite, num fim de semana em que me empenhei nesta coisa da mudança e por isso estava feliz mas exausta… decidi ultrapassar o cansaço e fui “correminhar” como diz uma das minhas amigas. Ia apenas caminhar, mas apeteceu-me correr um bocadinho e acelerei o passo. Fui a ouvir o “Era o que faltava” com o Rodrigo Leão, que recomendo. Quando estava quase a chegar a casa ouvi uma das músicas dele que mais gosto, que me deixa bem disposta e que até já foi o meu serviço despertar (se calhar vai voltar a ser). Espero que anime também o vosso dia!
É conhecido o meu gosto pelas cartas e postais. Gosto de as escrever e adoro o momento em que abro a caixa do correio e um pedaço de papel me surpreende. Para mim é magia! Um destes dias recebi numa newsletter uma sugestão de um novo podcast. A Arianna Huffington sugeria uma meditação através de histórias. Alguém conta uma história, ou melhor, uma parte da sua história e ao longo da mesma somos levados a meditar sobre alguns temas da nossa própria vida.
Claro que quando há no meio de uma série de episódios um que se chama “One envelope at a time”, qual é que acham que eu ouvi?!
A história partilhada está carregada de momentos dolorosos. Mas por outro lado, fala do poder que uma carta pode ter. Do poder que escrever uma carta à mão pode ter. Para quem a recebe e para quem a escreve. Do poder que uma carta tem na criação e fortalecimento de laços.
All these technological rhythms are embedded in my day and yet what do they prove? They're not tangible. I can’t hold the texts I send close to my chest and trace them for a scent. The digital footprint, as mammoth as it may be, isn’t proof that you and I were here. That we lived. That we loved. That we danced in the kitchen to no music at all, or that we held someone’s hand or made them a cup of herbal tea when their world came crashing down around them. - diz Hannah Brencher na sua história.
Na Flow deste mês falam de uma escritora de viagens que tem por hábito escrever-se cartas ou emails enquanto anda a viajar. Tenho um hábito semelhante, envio-me sempre um postal. E também com esse, que eu sei que vai chegar, consigo sentir a magia no momento de abrir a caixa do correio. Não sei porque a Kassondra Cloos o faz, na verdade… também não sei muito bem explicar o porquê de eu o fazer… mas recomendo!
Ontem, enquanto aproveitava uns momentos entre o rebuliço da cidade sentada na mesa de um café, reparei num senhor que se sentou ao meu lado com um chá, um caderno, o mais normal possível, e uma caneta. Eu também tinha um caderno pequeno e uma caneta, o mais normal possível. Escreveu a data no topo da folha, por extenso, e continuou a escrever. Certamente que escrevia uma carta a si mesmo. Que será um diário mais do que um conjunto de cartas que nunca nos enviamos pelo correio? Olhei para ele e pensei “este senhor serei eu nos próximos dias”.
P.S.: Amanhã mostro-vos aqui a história de uma outra carta, numa história contada por uma outra pessoa. Uma história gira que me contaram e que quero partilhar!
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