Bonito.
A Anabela Mota Ribeiro publicou ontem no instagram o texto que aqui deixo hoje. Publicou-o com uma imagem linda. Uma amiga, que segue mais de perto o trabalho dela, partilhou comigo essa publicação e disse "Bonito". Não precisamos de muitas palavras nestas situações. Sabemos o que a outra pensa em relação a textos destes. E vão ver como é tão simples, que a sua beleza é fácil de identificar. A minha resposta foi "Também li e achei o mesmo. Isso e que afinal ainda há pessoas boas".
A cada dia que passa é mais fácil pensar no que nós queremos, no que nós precisamos, no que nos facilita a vida. Nós, nós, nós. Tudo gira à nossa volta. Esquecemo-nos muitas vezes, e uns mais que outros, de pensar nos que estão à nossa volta. No que quererão eles, do que precisarão eles, no que lhes facilitará a vida.
Quando o outro passa à nossa frente, no sentido de lhe darmos mais importância a ele do que a nós mesmos, coisas boas acontecem! Não estou a dizer que nos devemos anular, não é isso, estou a dizer que muitas vezes, quando temos um pequeno/grande gesto, e sincero, na direção do outro, estamos a seguir por bons caminhos. Ou pelos caminhos certos. Quanto mais não seja porque hoje são eles, amanhã podemos ser nós.
"Passei os últimos quatro dias a viajar. A viagem que mais gostei de fazer foi entre Vila Real e Braga, de autocarro. O condutor era um homem jovem, com ar patusco. Uma passageira espanhola foi ter com ele, em plena auto-estrada: queria ir para Bragança, estava a caminho de Braga. O condutor desfez-se em diligências para que a "coitada da moça" pudesse voltar atrás o mais rapidamente possível. Fez telefonemas, localizou "um carro" (isto é, uma camioneta) que ia no sentido contrário, fez um desvio curto, esperou /esperámos cinco minutos numa rotunda onde era possível fazer o transbordo. "Hoje é ela, amanhã somos nós." Quando cheguei ao meu destino, dirigi-me a ele. Talvez pensasse que lhe ia pedir contas pelo atraso e começou por pedir desculpa. Respondi: "Não, não, venho só dar-lhe os parabéns e desejar bom ano. Poucas pessoas fariam o que o senhor fez". O altruísmo deste homem enterneceu-me; sendo um pouco piegas, digo tudo: foi um belo presente de Natal. Hoje é ela, amanhã somos nós.
Na véspera usei a avioneta que liga Tires a Vila Real numa hora. Depois de pousar em Vila Real, segue para Bragança. Nada a declarar, nenhuma moça espanhola a bordo."