A gruta na Serra da Arrábida
Subi e desci a Serra da Arrábida quando tinha uns 16 ou 17 anos. Já não consigo precisar. Não tenho o dom de guardar essas memórias como uma agenda o faz. Subi e desci a Serra da Arrábida numa altura em que muitas coisas eram possíveis. Aliás, naquela altura parecia que tudo era possível!
Nessa noite ficámos numa gruta. Para chegar a essa gruta tínhamos que descer uma escadaria e depois, ao fundo da gruta, víamos o mar. Cá em cima havia um pequeno espaço. Como se fosse a entrada de uma casa. E aí a vista era uma coisa... não dá para explicar! Víamos o mar, as estrelas, ouvíamos as ondas a rebentar e o luar. Tocávamos guitarra e cantávamos. Cansados, mas tínhamos 16 ou 17 anos.
Era uma altura em que se aprendia a tocar guitarra, com as Dunas, claro! Uma altura em que se decoravam todas as músicas e todas as letras das bandas do momento. Cantava-se, afinadamente ou não, e faziam-se segundas vozes. Contavam-se piadas, gozava-se com as aventuras e desventuras do grupo naquele dia e o cansaço desaparecia.
Sempre que vejo uma imagem como esta ou oiço o "A noite" - sobretudo na versão dos Resistência - lembro-me dessa noite na gruta.
Um destes dias fui jantar com um amigo que é de Setúbal. Falou-me de uma discoteca que havia mesmo em cima do mar, numa altura em que isso também era muito possível. Lembrei-me dessa noite na gruta e disse-lhe "Fui tão feliz na Serra da Arrábida!".