É estranho que nada disto abra um telejornal, mas os terroristas invadiram as praias. Habitualmente, não actuam através de células. Não dispõem de apoio logístico. Agem de forma solitária. E movimentam-se com tamanho à-vontade que se torna impossível detectar movimentos suspeitos que eles protagonizem e que nos permita antecipar um novo ataque, por exemplo. Tudo leva a crer, nenhum deles consta nas listas de "mais procurados", referenciados pelos serviços secretos. E, de forma surpreendente, são de baixa estatura, actuam como se fossem banhistas e, nos casos mais desconcertantes, fazem-se acompanhar duma bola de Berlim. Seja como for, pela forma como os pais, ou algum dos seus familiares, lhe chama tão prontamente "terrorista", haverá neles características que os tornam, aos olhos de quem os conhece, facilmente identificáveis.
Estes pequenos "terroristas" não pertencem a uma associação criminosa. Nem são uma ameaça a pessoas e bens. Ou à própria segurança nacional. Não exigem medidas de excepção nem grupos de operações especiais. E, regra geral, alguns deles, são nossos filhos!
Quando muito, "terrorista" está associado a um estar, todo ele muito amigo do bicho-carpinteiro, que implica saltar ondas. Fazer castelos de areia. Tomar banho até ficar engelhado de frio. Ficar-se muito próximo dum "croquete". Parecer que não se pára de comer. Jogar à bola, procurar umas raquetes e saltar, saltar, saltar. Fazer várias rondas perguntando a cada um dos familiares: "Queres brincar comigo?". E viver com uma excitação fora do vulgar uma situação toda ela fora do vulgar como aquela que representa ter a mãe e o pai juntos, disponíveis para brincar. E mais uns quantos familiares que, habitualmente, se vêem, ao longo do ano, unicamente, por videochamada.
Por mais que não pareça, "terrorista" acaba por ser uma forma terna dos pais dizerem que uma criança cansa só de a verem movida por um entusiasmo infatigável. Sobretudo, quando querem "trabalhar para o bronze" ou anseiam por se deliciar com uma leitura, sem “ondas”. Ou desejam muito estar centrados nos seus pensamentos. Ou, simplesmente, estar ao sol, quietos e calados. Por 5 minutos! Vendo por aqui, é claro que os pais sentem que o seu descanso é "sabotado" a cada minuto que passa. E aqueles furacões de 3, de 4 ou de 5 anos "aterrorizam" quaisquer férias a pensar no descanso.
As redes sociais têm muitas coisas menos positivas, mas também têm outras extremamente positivas. Conheci os Pomplamoose através de uma publicação do Francisco Baptista no Instagram. Desde ontem que tenho estado a ouvi-los e recomendo. Foi difícil escolher o vídeo para vos deixar... por isso deixo dois! :) Oiçam e depois digam-me se não fazem boa companhia?!
E já agora, se gostam de coisas relacionadas com o Marketing, "oiçam" o que o Francisco tem para dizer. E Francisco, se por acaso leres isto... desculpa, mas eu gosto de terminar as frases com pontos finais. :)
Tu consegues e a água está boa! Foca-te! Tu consegues! Foca-te! Vamos a isto!
Algas. Ondas. Pessoas. Nada crawl. Nada crawl. Não! E melhor ires de bruços. Onde está a bóia? Raios… está longe. Nunca mais lá chego. Não! Não penses nisso! Está já ali! Está já ali! Porque raio é que eu comi uma omolete?! Mais ondas. Ups! Desculpa aí… não fui contra ti de propósito. Foca-te! Bóia amarela! Isto não está fácil… isto é horrível… Pessoas. Mais pés. Estou a ficar mal disposta ou é dos nervos? Não… estou mesmo a ficar mal disposta. Nada costas pode ser que melhore. Se calhar é melhor levantar o braço e desistir. Mas também… caramba… desistir só porque estou a levar com as ondas… e a ficar mal disposta... Foca-te! Boia amarela! Porque é que eu me meti nisto?! É que ninguém me obrigou… Foca-te! Ainda no outro dia escreveste no blog que “quem manda aqui sou eu!” e agora estás a deixar-te levar só porque estás a nadar contra a corrente? Não! Quem manda aqui és tu! Continua e não oiças essas vozinhas irritantes que te querem fazer desistir. Reza uma Avé Maria, duas, três, as que forem precisas! Muda para o Pai Nosso! E foca-te na boia amarela para não saíres da rota! E os teus avós?! De certeza que estão orgulhosos por isso não vais desistir! O Avô Henrique de certeza que te diria que ele nunca era capaz ou então… também era homem para dizer que já tinha feito isso muitas vezes e que o fazia com uma perna às costas!
Primeira boia amarela! Toma! Já te passei!
Caramba… não era suposto isto agora ser melhor? E onde é que está a segunda boia amarela?! Cãibra no pé esquerdo. Já não me estava a faltar mais nada… pronto, ok, está bem, passou para o pé direito! Pelo menos sempre vai alternando. Mais ondas… quem é que disse que em São Martinho não há ondas? Como disse a M. “isto não está a ser divertido…”. Vá, continua. Onde é que está a outra boia que eu não a vejo!? Ah! Está ali! Também ajudava se os óculos não estivessem todos embaciados. Mas pronto… nada bruços e pelo menos vês os prédios… sempre te orientam. Ai, água quentinha! Que bom!!! Água quentinha! Água quentinha! Eu não digo?! Tenho um Amigo que nunca me deixa ficar mal! Olha um caiaque… se calhar estou a sair da rota. “Onde é que está a boia? AH já vi! Na linha daquele prédio? Ok! Obrigada!”. Continua! Agora vamos fazer 40 braçadas em crawl e depois outras 40 em bruços… a pulseira está a soltar-se! Espera! Vou prender-te no fato de banho! Pronto! Continua em direção à boia amarela! Isto nunca mais acaba e eu já vejo poucos braços no ar… se calhar já sou a última! Paciência! O que importa é chegar ao fim e não desistir! Heróis do Mar, Nobre Povo, Nação Valente e imortal (...)! Será que a pulseira do chip está a soltar-se!? Isso é que não! Caramba! Tenho coisas mais interessantes para fazer com 80 euros do que pagar uma pulseira que me saiu do pé em mar alto! Aperta a pulseira! Mais vale perder tempo do que perder 80 euros! E continua!
Segunda boia amarela!!!!! Bora lá que agora é para chegar ao fim!!!! Siga!!!!
Onde é que andará a H.? E o R.? Nunca mais os vi… os primeiros já devem ter chegado… Já devem estar a começar as provas dos mais pequenos. Mas agora também já só me falta este bocadinho. Será que já passa da meia hora? Deve passar… com tanta pancada ali no início, de certeza que perdi montes de tempo. Pelo menos desta vez consegui ir sempre orientada e não sair da rota! Já foi bom!
Olha! Boias pequenas como as da piscina!!!! Crawl! Nada crawl e sem medos! Estás quase!!! Estás quase!!! Será que já tenho pé!? E quando é que é suposto uma pessoa levantar-se e começar a correr para passar a meta!? Tenta! Levanta-te e vê se já consegues! Boa! Dor no gémeo… dor no gémeo… pronto… nadei 1500m e agora saio coxa… Tenho a pulseira do chip? Tenho!
Areia e chão firme! Conseguiste!!! Conseguiste!!!
Depois disto, recebi a minha medalha de participação (ou superação), entreguei o chip e quando olho em frente tinha o meu nome em cartazes, muitos balões vermelhos e cor de rosa e muitas pessoas a aplaudir. Eu conhecia 3 mas só essas três conseguiram mobilizar uma data de gente. Um senhor até já me tratava pelo nome, ele que pensava que aquela claque era para uma miúda pequena… e afinal era para mim, uma miúda com 41 anos! Foi muito divertido! Aí sim! À chegada foi muito divertido! E quando ia para junto da minha família, que sempre acreditou que eu conseguia, mesmo com os seus receios, também tive umas senhoras mais velhas que me deram os parabéns por ter participado.
Foi mega desafio. Muito mais do que eu estava à espera. O início não foi bom. Não foi divertido e nem sequer agradável. Para dizer a verdade, o início foi horrível! Comprovei o que já pensava: é a nossa cabeça que manda. Podemos estar fisicamente muito bem mas se nos deixarmos levar pela cabeça e ela decidir ser do contra… estamos tramados! Sempre acreditei que em termos físicos não ia ter problemas e ia aguentar, mas o psicológico é mesmo poderoso. E se tivesse levado o fato não sei se teria acabado, acho que a cabeça era capaz de ganhar e eu teria levantado o braço e desistido. Ou não. Nunca saberei!
Quando ia a nadar pensei que nunca mais me metia numa coisa destas. Uns minutos depois de ter saído, e sabendo o que sei agora, já pensava de forma ligeiramente diferente. Hoje, acho que era capaz de o fazer novamente. Aquele início já não me ia surpreender.
Quando acordei estive a pensar em como partilhar a experiência convosco. Ontem, durante o percurso, comecei a “escrever” este post para me distrair. Não está nada como eu o pensei. Logo de manhã veio-me esta música à cabeça. Acho que é a banda sonora mais adequada para vos mostrar como me senti ontem durante os 39 minutos que dediquei a fazer a Travessia de São Martinho. Oiçam e tentem imaginar.