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Edição Limitada

“Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito”. Clarice Lispector

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“Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito”. Clarice Lispector

Os Dias Bons

Encontrei este texto guardado entre outros. É de 2012 mas podia ser de 1986 ou de 2025. Os dias bons não têm data.


 
Os dias bons são os dias em que se acorda, tendo dormido oito, nove ou, melhor ainda, dez horas e, reflectindo naquela ronha de quem já não consegue dormir mais mas gosta de ficar na cama (porque a temperatura e a companhia são perfeitas), se lembra que não tem nada para fazer, senão tomar o pequeno-almoço, o almoço, o chá e o jantar. E, se quiser, entretanto, nalgum intervalo qualquer, trabalhar, tanto melhor. Mas não importa. Dias de domingos antigos: dias de prazer sem saber.


Os dias bons nunca acontecem. Acontecem, quando muito, cinco ou dez mil vezes numa vida. Três míseros anos já têm mais de mil. Domingo, daqui a uma semana, terei a sorte nunca tida de estar casado e feliz com a Maria João há 12 anos. Doze anos cheios de dias bons, impossíveis de contar.


O amor, para quem é mais novo e não sabe como fazer, não é uma técnica ou uma táctica. Não há segredo. Não há lições. Ou se ama ou não se ama. Ou se é também amado ou não se é. Esperar é o melhor conselho. Experimentar é o pior. O segredo não é ter paciência: é conseguir manter a impaciência num estado de excelsitude. É como o «nunca mais é domingo». Se não sentirmos, todos os dias, que nunca mais é domingo, quando chegar o domingo parecer-se-á com outro dia qualquer.


Os dias bons não são os que ficam para lembrança. São aqueles que se esquecem, porque se repetem na mais estúpida felicidade mas que, todos juntos, servirão para um dia eu poder dizer «sim, eu já fui feliz».

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público' (23 Setembro 2012)

 

 

Nomes, pinhões e pessoas preferidas

Francisco é o meu nome preferido. Francisco e não Chico, Chiquinho e os demais. Um dia, quando tiver um filho, chama-lo-ei de Francisco e, quando ele me perguntar porquê, responder-lhe-ei que era o nome de umas das minhas pessoas preferidas. Um dia, quando tiver um filho chamado Francisco, vou ensiná-lo a apanhar pinhões e partir a casca com uma pedra. Tal como um dia, um outro Francisco me ensinou. E assim conservamos as pessoas junto a nós, mesmo quando já quase não nos lembramos do som da sua voz. 

 

PS: Luís e Henrique são os meus nomes favoritos. Pelo mesmo motivo. O meu avô Luís também partia a casca dos pinhões que apanhávamos juntos com uma pedra, e também era especial! 

 

Andei a mexer em papeladas e encontrei este texto. Tenho o link do The Lisbon Story mas o texto foi arquivado entretanto.

 

 

O que faz falta

No livro "Abraço" do José Luís Peixoto li um texto sobre uma cabine telefónica. Aqui fica o excerto de quando o Zé Luís, como lhe chamava a avó, era pequeno:
 

"Mesmo muitos anos depois de ter sido instalada, a cabine telefónica não tinha qualquer risco ou sujidade. Aquele era um lugar que todas as pessoas da terra estimavam, como poderiam estimar um relógio antigo, ou qualquer objecto precioso. Muitas vezes de manhã, ao passar pelo terreiro, vi mulheres que moravam perto da cabine telefónica a lavá-la. Utilizavam água, que despejavam e que escorria, suja, ao longo das regadeiras. Utilizavam líquido dos vidros, que esfregavam com folhas de jornal. Nas outras ruas da vila, era exactamente assim que acontecia também com os caixotes do lixo. As pessoas que moravam perto dividiam entre si os dias em que os lavavam com vassouras, com baldes cheios de água. Depois viravam-nos ao contrário para secarem".

 

Acho que é disto que temos falta, do sentimento de bem comum, de responsabilidade sobre as coisas que são de todos e não são de ninguém. Ainda há uns dias, em conversa indignada com os meus pais sobre um rapaz que deitou um papel para o chão, estando ao lado de um adulto que nada fez, comentava o meu pai que os seus alunos (crianças!) se virem um casaco no chão, deixam ficar. "Não é meu!" é a resposta. E ainda por cima são perfeitamente capazes de lhe passar por cima. Afinal, não é deles!

 

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