A primeira vez que dei sangue foi num acto mais egoísta que altruísta. Admito. Estava desempregada há algum tempo e sentia-me inútil. Pensei no que podia fazer para mudar essa sensação, alguma coisa que não me enviasse cartas a dizer “obrigado mas não precisamos de si”, e lembrei-me de ir dar sangue. Infelizmente há sempre alguém a precisar da dádiva de um perfeito estranho.
Fui à maternidade Alfredo da Costa e não pude dar, estava fechado. Mas voltei e dei. Passado uns tempos, no local onde trabalhava faziam recolhas regulares e voltei a dar. Depois mudei de trabalho e também de ponto de recolha, passei a ser dadora no Hospital D. Estefânia. E embora seja verdade que da primeira vez o fiz para me sentir útil à sociedade, de todas as outras vezes fi-lo sem qualquer interesse. Apenas e só para poder ajudar alguém que pudesse precisar.
Uns anos mais tarde, tive um tio doente que fazia muitas transfusões de sangue e, depois dele, também o meu avô precisou de as fazer. Lembro-me de ter pensado que alguém os tinha ajudado, um dador como eu, alguém que se dispõe a dar um bocadinho de si. Um bocadinho que pode ser tão grande na vida de outra pessoa.
Ontem voltei a dar sangue! Fui, como sempre, muito bem tratada. Desta vez não fui sozinha, fui com uma colega de trabalho que já queria fazer isso há muito tempo.
E para quem pensa que dar sangue é um processo super difícil e complicado aqui ficam os requisitos:
Ser saudável e ter hábitos de vida saudáveis
Ter entre 18 e 65 anos (sendo que a primeira dádiva deve ser antes dos 60)
Regularidade: Homens a cada 3 meses, Mulheres a cada 4 meses
Tomar uma refeição ligeira e sem gorduras antes de ir dar sangue
Antes de dar sangue preenchemos um questionário, depois vamos a uma consulta com um médico que avaliará se estamos aptos, ou não, para fazer a colheita nesse dia (níveis de hemoglobina, tensão arterial, medicação que estejamos a tomar, peso, etc). E depois disto é só esperar pelo tempo da recolha. Embora possa parecer assustador, não é! E no final ainda recebemos um lanche. Ninguém sai dali sem comer qualquer coisinha!
Os inconvenientes? Ora bem… nada de exercício físico nesse dia, beber mais líquidos do que o habitual (o que também não é grave) e não fazer esforços, nem carregar pesos. Nada demais!
Para aqueles que até gostavam de dar sangue mas andam a adiar essa decisão… sugiro que não pensem muito nisso, pesquisem onde o podem fazer nas vossas zonas de residência, ou trabalho, e vão lá. Se não puderem dar, o médico diz. Se tiverem dúvidas, serão esclarecidas. Se tiverem medo… vão ver que isso depois passa!
Durante o tempo que estive "meio" desaparecida por aqui, tirei uma semana de férias. Precisava de parar. Entre outras coisas. E precisava de "reagrupar". Não consigo muito bem explicar o que quero dizer com isso mas acho que já vão perceber.
Com o passar dos dias vamos tendo muitas ideias, muitas solicitações, compromissos, responsabilidades, etc, e há sempre pontas que ficam por atar. Pontas soltas à espera do dia em que finalmente dão o nó e o assunto fica arrumado. E comigo não é diferente. Há muito tempo que andava a dizer que precisava de parar. Parar literalmente mas também parar para fazer aquilo que fiz: atacar a tralha!
Tinha comentado por aqui que tinha iniciado uma missão destralhar, uma não, mais uma. E também referi algures que o ia fazer sem pressões. A base desta missão era o #minsgame dos Minimalistas em que num mês eles retiram de casa 496 coisas. Na minha casa isso ainda é possível, mas já não tão fácil. Isto de andar sempre a destralhar tem destas coisas, mais cedo ou mais tarde, deixamos de ter assim tanta bugiganga a mais.
Mas voltando à minha semana de férias. Decidi que iria atacar os monos que me causavam algum desconforto, sobretudo porque sempre que olhava para eles ouvia a vozinha do diabinho dizer "ahahah ainda não fizeste isto!!!". E essa vozinha começou a falar cada vez mais alto e a deixar-me desconfortável. Ao mesmo tempo, continuava a sentir que estava a ficar meia engolida pelas coisas. E se juntarmos isto a todo um mundo que anda à nossa volta... não sei explicar muito bem, mas não era uma sensação boa.
Aproveitei que estava a começar a mudar o tempo e voltei a pegar na roupa com olhos de ver. Escolher o que não vesti, o que não vou vestir, o que está grande, o que não me faz feliz. Peguei finalmente nas caixas cheias de bijuteria e escolhi os colares e pulseiras que não uso há anos, alguns até que nunca usei, carteiras e malas, casacos, sapatos, livros, mantas, caixas que tinha desde a Universidade, entre outras coisas. Numa semana tirei de casa 178 coisas.
Ao longo desta semana fui partilhando com umas amigas os progressos que ia fazendo. Inundei-as com fotos do que ia fazendo, das coisas que ia tirando e que podiam ser úteis para elas. Partilhar este processo foi muito importante por dois motivos: por um lado, mostrava o caminho que fazia, as coisas que ia destralhando, os espaços que ia ganhando e recebia incentivos a continuar, por outro, o facto de partilhar com elas esta missão, fez com que pelo menos 2 delas se sentissem entusiasmadas e ganhassem coragem de atacar as suas próprias tralhas.
No final dessa semana a casa estava muito diferente. Apesar de ainda ter uns "monstros" na dispensa que precisam de levar um tratamento daqueles, a casa estava muito diferente. Curiosamente, eu não conseguia ver isso. Acho que ainda não tinha o distanciamento necessário para conseguir vê-la com olhos de ver. Apenas via a casa e não o lar. Não sei se me estou a fazer entender... Via algumas diferenças mas não eram significativas do que tinha passado uma semana a fazer. Até que me comprometi a enviar um vídeo com o "house tour" - o resultado final. E depois de lhes enviar o vídeo, e de eu própria o ver, consegui tirar o filtro que tinha e perceber que estava tudo muito mais próximo daquilo que eu queria para a minha casa!
Foi cansativo? Foi! Foi uma seca? Também foi! As coisas parecem renascer sabe-se lá de onde? Sim! Continuo a achar que tenho coisas a mais? Também! Custou-me "desfazer-me" das coisas? De algumas... No final soube-me bem? Soube! E ainda sabe!
P.S.: Nesta semana superei o tal objetivo das 496 coisas. E defini outro até ao final do ano: 750 coisas. Já vou em 600. E se pensam que tenho a casa a abarrotar de coisas, não é verdade. Não sou acumuladora, só acho que tenho coisas a mais. (vá... de canetas se calhar sou um bocadinho acumuladora... mas estou em processo de desintoxicação :))