A semana passada falei sobre viver uma vida simples. Uma parte considerável, ou representativa, desta vida simples é a nossa casa, o nosso dia a dia e os nossos hábitos. E toda a gente sabe que mudar hábitos não é a coisa mais simples do mundo. Não tocamos num botão e "Tcharan! Deixei de beber café!" ou "Tcharan! Deixei de _____ (inserir aquele hábito que queremos mudar mas teima em fazer-se difícil).
Dei comigo a pensar: "como é que tu queres tratar de tudo num fim de semana quando demoraste mais que duas décadas a juntar estas coisas?". E caiu-me a ficha. Realmente, como é que eu queria, quase, deitar-me numa casa onde tinha coisas ainda do meu primeiro ano da Universidade e acordar na casa que eu quero ter hoje. Não é fácil. Há muita coisa envolvida.
E podemos pedir ajuda, claro que sim, mas não é a mesma coisa. O melhor é sermos nós a tomar as decisões, quer para vermos onde andámos a gastar os nossos trocos, quer para nos apercebermos da quantidade de coisas que temos, ou ainda para ajudar na tomada de decisões no futuro. Porque isso sim é que vai determinadar o sucesso desta missão.
Ao longo do processo deparamo-nos com o copinho de canetas que a amiga trouxe do Brasil, ou a moldura que outra amiga ofereceu, a varinha mágica que era da avó, ou a t-shirt que usámos naquele concerto espetacular em 1900 e troca o passo (este último é um exemplo fictício. Onde é que isso já vai!?) Mas estas coisas que foram oferecidas por pessoas próximas ou que de alguma forma nos trazem boas recordações... estas são tramadas. O mais divertido é que quando dizemos a essa pessoa, quase a medo, que nos desfizemos desse pertence... ela já nem se lembra do que estamos a falar e nós andámos com o copinho das canetas durante uma data de mudanças de casa, e uma data de tempo dentro do armário, porque não fica bem na decoração atual.
Falemos então dos passos:
1º Passo: Destralhar devagar mas de forma consistente - Começar é sempre o mais difícil. Até porque a quantidade nos pode assustar e não permitir perceber qual o primeiro passo. 15 minutos e uma gaveta pequena podem fazer maravilhas neste "pontapé de saída". Trabalhar uma coisa de cada vez, em vez de querer fazer tudo num só dia, pode ser uma boa estratégia. Temos é que ser consistentes. Se tivermos tempo e disposição para atacar a tralha um dia inteiro também o podemos fazer. Não podemos é achar que resolvemos tudo de um minuto para o outro.
2º Passo: Não ocupar o espaço que ficou vazio - Resistir e relembrar porque é que começámos esta jornada e onde é que queremos chegar. E mais, menos coisas significam menos tempo em limpezas e menos tempo em limpezas representam mais tempo para fazer o que quisermos fazer com ele.
3º Passo: Pensar antes de comprar - Preciso mesmo disto? Porquê? Onde é que vou guardar? Quantas vezes me vai ser útil? Quanto tempo vai durar? Não conheço ninguém que me possa emprestar? Quanto menos coisas deixarmos entrar em nossa casa, melhor. E às vezes nem são coisas compradas.Ofertas em eventos podem ser um bom exemplo disto.
Organizar e destralhar ajudam ainda a poupar dinheiro. Como passamos a saber o que temos e onde temos, a probalibilidade de comprar repetido reduz-se significativamente. E depois ainda chegamos à conclusão que a resposta à pergunta "preciso mesmo disto?" passa a ser muitas vezes "não". E com isso acabamos por começar a poupar dinheiro. Mas sobre isto virei aqui falar daqui a uns dias.
Li há dias um artigo que sugeria que pensassemos no nosso roupeiro como se fosse uma mala de viagem. As malas de viagem têm um conjunto de associações:
quer seja em trabalho, quer seja em lazer, são sempre uma conjugação do verbo ir;
a sua capacidade é sempre limitada, maior ou mais pequena, mas sempre limitada;
normalmente vão cumprir um objetivo e por isso o seu conteúdo tem também objetivos definidos;
quando viajamos queremos sempre fazê-lo em BOM, mas confortável;
e sem dúvida alguma, quando viajamos escolhemos sempre para levar na mala o que gostamos mais, nos fica melhor e nos faz sentir na nossa melhor versão.
É também por isso que não é preciso ter um roupeiro a abarrotar de peças. Quando chegam os momentos chave recorremos quase sempre às mesmas coisas. Aquelas que sabemos que são escolhas acertadas. E por isso, mais vale ter pouco e bom do que muito mas sem utilidade.
Nas minhas escolhas sou um bocadinho "básica". Não básica no sentido de insonsa mas no sentido clássico da palavra. Acredito que as chamadas peças básicas, quando de boa qualidade, bem tratadas e sobretudo bem conjugadas, ficam sempre bem. Mas ao longo do tempo também fui percebendo que devemos tentar sair um bocadinho da nossa zona de conforto e arriscar outras coisas, outros estilos. Quando o fazemos de forma conscienciosa descobrimos imensas coisas, até sobre nós próprios. Quem diria há uns anos que euzinha seria pessoa de usar baton vermelho*, por exemplo? Ninguém. Acreditem!
E como sou do verbo ir, continuo a fazer as minhas escolhas de roupa de acordo com o príncipio de que um dia elas irão para dentro de uma mala. E nesse dia só lá entram as melhores companhias de viagem!
*não é uma peça de roupa mas é um exemplo tão bom como calças largas e floridas. Arrisquei e gostei!
Lembro-me perfeitamente da aula de Antropologia Cultural em que a professora falou sobre a diferença entre ritos e rituais. De uma forma simples, o ritual é como a checklist para dar cumprimento ao rito.Também lhe podia chamar rotinas, no sentido de conjunto de procedimentos, mas ritual parece-me mais delicado. É mais como uma cerimónia dedicada a mim mesma e não uma lista de coisas obrigatórias a fazer logo pela manhã e mal chego a casa ao final do dia.
Não vou aqui deixar o esquema das minhas manhãs e dos meus finais de dia mas vou dizer como cheguei até elas. Depois cada um terá de fazer um pequeno exercício e encontrar a sua :) Posso no entanto dar alguns exemplos!
Há um conjunto de coisas que eu quero fazer, hábitos que quero adquirir, alterações cujos efeitos quero testar e comprovar, mudar coisas que sei que preciso mudar. Agora os exemplos: uma das coisas é beber 2 copos de água mal acordo (recomendação médica), o outro é descalçar-me logo que chego a casa.
E então como é que eu cheguei às minhas rotinas? Ora bem, pensei em todas as coisas que eu queria fazer e mudar, defini um esquema com base no que faço nesses momentos e vi onde encaixar as coisas que ainda não fazia. Está provado que se juntarmos uma pequena alteração a um hábito já enraizado a probabilidade de sucesso será muito maior. E vocês perguntam: mas não bastava só pensar no que quero fazer em vez de ter um "procedimento"? Nops, infelizmente não. Se acharmos que vamos fazer tudo e mais alguma coisa antes de sair de casa mas isso não tiver uma sequência que seja, para além de lógica, natural, a probabilidade de isso acontecer é reduzida. Acreditem...
Agora, é verdade que os hábitos novos são mais difíceis de incorporar. Descarrilamos muito mais rápido do que pensamos! É preciso força de vontade e persistência. Mas quando as coisas nos fazem sentido e queremos que aconteçam, conseguimos.
Depois de ter definido o que quero fazer, vi mais ou menos o tempo que isso vai demorar para, no caso da manhã, ver a que horas me devo levantar, e no caso da noite, o tempo que me vai consumir, para ver se são exequíveis. Importa também não esquecer as atividades que temos pré-agendadas e incluir nos dias específicos.
Como sabem... sou pessoa de listas por isso, como é óbvio, fiz uma listinha para a semana, com todos os passos a seguir para conseguir cumprir estes rituais. Já estamos a meio do mês e este desafio está a correr bem. E eu estou super orgulhosa!