DE CORAÇÃO APERTADO...
São Francisco de Assis é o Santo encarregue pela protecção dos animais. Ontem comecei o meu dia com uma grande e séria conversa com ele. Acordei com uma agitação fora do normal à porta de casa. Duas senhoras a falar e um miar aflitivo. Caí no erro de abrir a janela e por isso agora posso dizer como ele era, até porque já estava a pensar na mensagem do cartaz "Encontrou-se Gato pardo, com mancha branca no pescoço, patas branquinhas e uma pequena mancha no dorso, também branca. Pelo lustroso e gordinho, denuncia ser bem tratado".
De pequenina lembro-me do Pipoca, embora pouco, e sei que houve uma Barnete, uma salsicha que tomava conta de mim enquanto eu dormia.
Nunca tivemos aninmais em casa até sermos grandes, ou melhor, até ao dia em que uma amostrinha de gata seguiu os meus pais e conseguiu que a levassem para casa "só esta noite". Foi uma noite longa que só terminou muitos anos depois, já ela era velhinha. Pouco depois da nossa gata ter entrado lá em casa, chegou um cão. Também ele pequenote, adoptou-a como mãe e andavam sempre juntos. Ele era o cão que achava que era gato!
Quando perdemos a nossa gata foi muito difícil para todos. Ela era linda e tal como diz o meu pai "uma verdadeira Lady" (de notar que estas palavras ganham ainda mais força dado que os dois mantinham o que se pode chamar de relação diplomática). Foi decretado superiormente que não voltaríamos a ter animais em casa. O Decreto ainda vigorou uns anos até que outra amostra de gato apareceu. Era mínimo e todo preto. Era, desde o primeiro dia, um diabo em forma de gato. Era mesmo uma coisinha endiabrada que logo nos primeiros dias se atirou em voo e aterrou bem no meio de uma frágil planta verde. Parecia que tinha aterrado na selva de tão pequeno que era! Adorava a minha irmã mas passava a vida a mordê-la. A pobre parecia que andava sempre no meio das silvas. Depois dele...novo Decreto, que vigorou ainda menos tempo.
Um dia liga-me a minha irmã e pergunta se tinha falado com os meus pais. E ria-se!
- Não imaginas o que aconteceu! Foram ao café...
- E não levaram a carteira!?
- Não!
- Não levaram as chaves de casa e agora estão na rua!?
- Não!
- Então!?
- Encontraram um gato bébe. Estava num cano das águas. Agora temos um gato! Cabe na palma da minha mão!
É preto como o diabinho em forma de gato, um Sir em homenagem à nossa Lady. É tão meiguinho, tão meiguinho...
Por tudo isto, sei que este gato estava perdido, que miava por querer ir para casa e (espero) que havia alguém à procura dele, de coração apertado como ficou o meu.
Quando saí de casa já não o vi e quando voltei à noite também não. Vou acreditar que encontrou o seu caminho e que São Francisco de Assis ouviu o que eu lhe disse logo pela manhã.